domingo, 30 de dezembro de 2012

É altura de fazer balanços...

Pois bem, pela primeira vez na minha vida faço um balanço negativo desde ano que agora acaba. Sempre fui muito positiva, mas a verdade é que sempre tive razões para isso. Não gosto de me queixar, não me quero queixar, mas este ano de 2012 foi mesmo um ano muito estranho. Muitas vezes disse ao R. "e se o nosso casamento marcou um pico na nossa vida e a partir daí é sempre a descer?". Dizia isto na brincadeira, agora já não sei bem...

O ano até nem começou mal, terminei o meu mestrado. Mas até ao momento nem sei bem para que serve. De dezenas de currículos que enviei para empresas de todo o país não consegui uma única resposta (ou se as recebi foram negativas, claro).
Também tivemos o início da Capital Europeia da Cultura e isso até me trouxe alguns bons momentos, belos concertos, espectáculos de rua, algumas ante-estreias gratuítas...

Mas de repente parece que as coisas começaram a descambar: eu nunca consegui um emprego como deve de ser (explicações e artesanato não sustentam uma casa), o R. não conseguiu aquele emprego que parecia quase garantido, o meu pai trabalha para aquecer porque a fábrica onde trabalha foi ao charco... uma série de coisas. Muitas promessas e nada cumprido. Até me convidaram para trabalhar com uma estilista (a própria convidou-me)... e a na hora H a estilista fez questão de desaparecer do mapa sem uma satisfação sequer. Se eu fosse dada a depressões já estava bonita, estava... ah, e sem falar nas pessoas que me desiludiram e muito, mas isso é uma constante nesta vida!

E agora este final de ano que ficou marcado pela morte daquela pessoa que vos "falei". Isto sim, foi aquele abanão.

E mesmo com algumas pessoas à minha volta coisas estranhas aconteceram... foi um ano sobretudo estranho.

Todos os anos o meu desejo é o mesmo: "Que o próximo ano seja tão bom como este". Acho que não sou egoísta se este ano pedir: "Que o próximo ano seja um pouquinho melhor que este."

A ver vamos...

Bom 2013!!!

"O que é belo não morre, transforma-se noutra beleza"

Que assim seja...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Virar a página...

... é assim que me sinto neste momento, com uma imensa vontade de virar a página. Depois deste enorme abanão que a vida fez o favor de me dar, eu e o R. estamos decididos a fazer uma série de coisas que há muito andávamos a adiar. Mas por enquanto fica mesmo apenas esta nota, porque ainda não há certezas de nada. Apenas a vontade.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"E tudo o vento levou..."

Não é bem assim. Não foi o vento que a levou. E também não levou tudo. Pelo menos por enquanto. Ainda cá está a dor, o vazio, as lembranças do dia de ontem, as lágrimas... e há-de ficar a saudade, as memórias, a família. Continuamos cá todos, para manter viva a sua história.

Tinha chegado à terra do R. há pouco mais de 2h quando recebi a notícia que esperávamos há mais de uma semana. Amaldiçoei a hora em que entrei naquele comboio. Os primeiros sentimentos foram de paz e de alívio. O nosso sofrimento estava terminado e o dela também. Numa conversa rápida com o R. decidimos passar lá a noite de Natal, com a família. Claro que não consegui abstrair-me um único segundo daquele pensamento. Estava principalmente preocupada com os meus, que estavam "lá"...

Ontem (dia 25 de Dezembro) viemos cedo para cima. E foi ao entrar naquela capela, com a fotografia dela a "olhar" para mim, as pessoas mais importantes da minha vida (além do R.) a chorar, e então caiu a ficha.

Nunca tinha ido a um funeral de alguém tão importante para mim... foi a coisa mais dolorosa que já me aconteceu, foi muito maior que qualquer dor física que já tive, não me foi possível controlar, só queria mesmo pontapear tudo e todos, bater em alguém, gritar. Mas isso eu consegui controlar.

Mas o que ainda me marca o pensamento e ainda me faz chorar foram aqueles dois abraços, às pessoas certas: o marido e o filho.

"I must be strong/and carry on/ 'cause I know I don't belong/here in heaven...
And I know there'll be no more/tear in heaven..."

Até sempre...

domingo, 23 de dezembro de 2012

A todos os leitores deste meu blog...

... desejo um Feliz e Santo Natal, com muito amor, muita paz e muita saúde no "sapatinho". Nunca estes desejos foram tão sinceros. Como bem sabem, o meu Natal será com o coração apertadinho, pequeninho e dorido. Estarei longe mas estarei com o pensamento naquele hospital, naquela "cama". Sei que "aquele momento" está muito próximo, hoje vi uma pessoa completamente acabada, o que resta de um ser cheio de vida. Portanto passarei o meu Natal a pensar em "ti".

Feliz Natal :')

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

E porque estamos quase no "fim do mundo"...

Dizem por aí que o fim o mundo vai ser daqui a umas horitas... ora pois, quase que digo "que seja!". Porque esta última semana tem sido de sofrimento que chegue e que sobre, e assim sempre se acabava esta dor, este vazio que já se vai sentindo, e todo este desespero.

Em jeito de actualização de estado: a pessoa de quem falei no post anterior agarra-se à vida como pode. Na 6ª feira passada apanhamos um grande susto, os médicos diziam que não passava daquela noite. Mas ela é forte. Ainda não foi desta.

No espaço de uma única semana ela definhou completamente. Já não se move, está a respirar por uma máscara, sente-se muito cansada, custa-lhe falar... ainda ninguém teve coragem de lhe dizer o que se está a passar com ela. Os médicos é que deviam fazer isso, mas parece que pouco se importam com esse facto. Agora está até num quarto solitário... não percebi se para não ser incomodada pelas outras doentes, se para não incomodar. Talvez as duas hipóteses sejam válidas. Fui ontem vê-la e não sei se terei coragem de o voltar a fazer (note-se que depois de saber a verdade dos factos já lá estive 3 vezes) porque a forma como a encontrei ontem ainda me revolta as entranhas. Ontem vi que, de facto, está a morrer. Nunca tinha visto uma pessoa "a morrer"... a agarrar-se à vida, a respirar com tanta dificuldade. Ela só me conseguiu dizer: "trocaram-me a máscara..." e de seguida adormeceu. Tive de sair rapidamente para não chorar, não queria que acordasse e me visse em lágrimas.

É muito doloroso. Andamos todos a "arrastar-nos", facilmente irritáveis, sem grande humor, sem grande paciência, com o sono em atraso... porque esta espera é horrível. De cada vez que o telefone toca salta-nos o coração até à boca, à espera do pior. Mas, até este momento, ela lá está, a lutar com quantas forças tem. A mulher guerreira e forte que conheci é agora uma menina princesa, um ser tão frágil, tão pequenino...

Que a sua hora seja pequena (em dor), e que a sua recompensa seja grande (sim, porque eu quero acreditar que tudo não acaba aqui, que alguém a espera do outro lado para a guiar, e que ela possa ser um anjo nas nossas vidas).

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12-12-12... era hoje que começava o fim do mundo, não era?!

Pois, verdade ou não, para mim foi mesmo verdade. O relógio não marcava bem as 12h e 12 min., mas passava pouco mais de 15 minutos dessa hora quando me arrancaram o chão de debaixo de mim. Se me tivessem dado uma marretada o resultado acho que seria o mesmo.
Hoje sinto-me pequenina, diminuída, esmagada. Com dor de cabeça, náuseas, vómitos, falta de apetite e por aí fora... e não, não estou grávida. Antes estivesse. De repente tudo me parece insignificante.

Tenho 25 anos. A última vez que perdi uma pessoa da família foi há 15 anos. Faz 15 anos no dia 23 deste mesmo mês. Foi a minha avó materna. Chorei por ver a minha mãe chorar. Apenas (embora me doa dizer isto de forma tão fria).

Há uma pessoa na minha família (cujo nome/relação não vou revelar) a quem foi diagnosticado cancro há um ano. Fígado e intestinos. Não sendo a pessoa mais próxima dela, ao longo de todo este ano nunca lhe fiz muitas perguntas. Sim, é uma pessoa próxima. Mas há outras pessoas mais próximas com o direito de saber como iam as coisas. E eu acho que estar sempre a perguntar "então, e há progresso?" é chato! Na altura lembro-me de terem falado em "muito grave". Mas para mim isso é relativo. Quero dizer, há pessoas que têm acidentes de automóvel "muito graves"... e ao fim de uns meses estavam aí para as curvas. Pensei apenas nesse tipo de grave.

Essa pessoa da minha família estava para ser operada... há um ano. Na "hora" de operar resolveram tentar a quimio. E tudo correu bem. Pensávamos nós. Durante meses ela andou bem. Como já disse em desabafo com a minha irmã e com uma amiga, já vi pessoas com dores de cabeça bem mais arrasadas que ela. Ninguém dizia o que ela tinha.

Há mais de uma semana foi internada. O intestino deixou de funcionar. Há uma semana foi operada. Fui visitá-la depois disso (é-me uma pessoa mesmo querida) e custou ver que ninguém sabe de nada, o que fizeram, o que querem fazer. Um estranho silêncio. Ela está a dar em doida, sem saber o que fizeram/vão fazer/podem fazer. Toda a gente lá vai e volta com a mesma notícia: nada! E eu ontem falei com ela e disse: "amanhã falo com o médico". Estúpida, estúpida, estúpida!!! Se não dizem nada é porque se calhar é melhor, mente parva! Em 20 segundos a médica disse, resumindo: "Não há nada a fazer... abriram-na para voltar a fechar, porque não há nada a fazer... é uma questão de dias..." Aquilo me ecoa na cabeça... dias? DIAS?! Em pleno século XXI?! Uma pessoa nova, porra!!! E agora digam-me, que faço eu? Eu fiquei de lá voltar e não tive coragem. Ela vai perguntar se falei com o médico. E eu respondo o quê? Que não? E ela fica na mesma desesperada sem saber nada? Que sim, falei, e que não há esperanças? Que direito tenho eu? Quem sou eu? Ninguém!!! Ninguém mesmo!!!

Merda, merda, merda!!! Mais um Natal estragado :(

Por favor, quem leia este blog que reze, que tenha fé, porque apesar de tudo eu quero acreditar que ainda vão alguma coisa. Uma pessoa plenamente consciente do que se passa à sua volta e sem uma única dor não poder estar morrer, pois não? Pois não?...