segunda-feira, 6 de agosto de 2007

6ª Parte do 1º Capítulo "Safira"




Cruzou a perna para poder retirar uma folha que se colara a um dos seus pés descalços. Era uma das coisas que mais a fascinava: caminhar descalça pela Floresta. O seu pai pedia-lhe que não repetisse a proeza, de cada vez que o fazia. Mas, naquele dia, todos se apresentavam descalços. Era assim há muitos anos. Apenas mais uma tradição que passara de geração em geração. Então, enquanto se mantinha entretida a sacudir os pés com gestos delicados, a população entrou em alvoroço. Safira ergueu o olhar, mas toda a gente se juntara na sua frente, impedindo-a de ter visão sobre o que quer que fosse. Colocou-se de pé, agilmente, no banco em que havia estado sentada, e percebeu o que se estava a passar. O magnificente coche puxado por quatro cavalos brancos via-se já ao fundo da Clareira. O seu coração deu um pulo, querendo saltar a qualquer momento. Algumas raparigas gritavam, histéricas. Safira sorriu com ironia, perante tamanha balbúrdia. O coche parou bem na frente do local onde se encontrava. O cocheiro, um homem atarracado e com uma enorme barriga, desceu e deu uma palmadinha na cabeça de um dos cavalos, abrindo a porta do coche de seguida. De lá saiu um homem alto, de cabelo cinzento e enormes olhos pretos. Vestia um casaco que lhe batia no joelho, castanho e com botões dourados. As calças, justas à perna e também castanhas, perdiam-se por dentro de umas botas de pele, onde o casaco roçava. A sua camisa, bege, era bem enfeitada de enormes rendas da mesma cor. O Rei ergueu a mão e cumprimentou o seu povo. Enquanto isso, o cocheiro ajudava a Rainha a descer, tendo-lhe estendido a mão. A Rainha desceu, imponente e majestosa no seu vestido de veludo verde, que possuía uma enorme roda. Os seios, comprimidos pelo corpete, quase saltavam para fora. O seu cabelo estava preso no alto da cabeça, onde lhe fora colocada uma flor. Transportava consigo um requintado leque, que abanava ligeiramente. Sorriu aos habitantes da Floresta e ergueu também a sua mão para os cumprimentar. E, sem aviso, o tempo parou. Todos se silenciaram para ver o terceiro elemento da família Real descer do coche. Contavam-se pelos dedos os que alguma vez o tinham visto.

Retirado da revista "audácia"


“ À procura da felicidade…
No princípio dos tempos, vários demónios reuniram-se para fazer uma travessura.
Um deles disse:
- Devíamos tirar alguma coisa aos humanos!... Mas o que é que lhes vamos tirar?
Depois de muito matutar, um dos demónios propôs:
- Já sei, vamos tirar-lhes a felicidade. O problema é onde a esconder para que não a possam encontrar.
Alguém levantou a mão:
- Vamos escondê-la no cimo do monte mais alto do mundo.
Imediatamente respondeu o outro:
- Não! Lembra-te que eles têm muita força. Alguém pode subir e encontrá-la e, se a encontra, todos vão saber onde está.
Disse outro:
- Então vamos escondê-la no fundo do mar!
Alguém respondeu:
- Não! Lembra-te de que eles são curiosos e algum dia alguém vai construir um aparelho para poder descer e então vão encontrá-la.
Outro sugeriu:
- Vamos escondê-la num planeta bem longe da Terra.
Mas um demónio ripostou:
- Não! Lembra-te que eles têm inteligência e, algum dia, alguém vai construir uma nave para poder viajar para outros planetas e vai encontrá-la. Então, todos terão a felicidade.
O último dos demónios tinha estado calado a escutar atentamente cada uma das propostas dos demais. Pesou cada uma delas e depois disse:
- Acho que sei onde pôr a felicidade para que realmente nunca a encontrem.
- Onde?
- Vamos escondê-la dentro deles próprios. Estarão tão ocupados a procurá-la fora de si que nunca a encontrarão.
Todos concordaram e desde então é assim: as pessoas passam a vida à procura da felicidade sem saber que a trazem consigo!”