terça-feira, 13 de novembro de 2007

2ª Parte do 3º Capítulo "Morte e Vida"


Assim que chegaram ao espaço circundante da capela, todos pararam, formando um semicírculo enorme, entre pessoas e animais. O caixão foi transportado até ao centro do semicírculo, de modo a que todos o pudessem ver. Rafael, os Reis e o velho lenhador posicionaram-se ao lado da urna, voltados para todos os outros. As crianças aproximaram-se e pousaram as flores em cima do caixão, transformando-o num imenso jardim. Algumas passaram a mão pela cabeça dos cavalos. Outras, intimidadas, tentavam esquivar-se o máximo possível àqueles animais.
O Iluminado aproximou-se também e benzeu Safira, com um gesto simples. O Iluminado era um homem, o mais velho de todos os homens ao serviço do castelo. Era ele quem presidia a todas as cerimónias: casamentos, baptizados, funerais… Este Iluminado não tinha casado Safira e Rafael, pois vintes anos antes havia um outro homem mais velho, que morrera entretanto.
Ele virou-se para a multidão.
- Nem sempre a vida nos faz sorrir. – O Iluminado era ainda um homem forte. Quase calvo e com uma farta barba, fazia lembrar os velhos feiticeiros das histórias de magia. Os seus olhos eram negros e profundos, mas a sua expressão era suave, parecia ser alguém em quem se pode confiar. - Por vezes prega-nos partidas para as quais não estamos preparados. Safira partiu, deixando um Príncipe viúvo e uma criança órfã de mãe. Mas alegremo-nos, irmãos. Safira sempre foi uma mulher feliz, amou e foi amada e deixou-nos uma criança linda, que um dia será vossa rainha. O seu nome é Lua, como a mãe tanto desejava, e é nela que agora devemos focar-nos. Porque a criança é fruto de um grande amor e o maior tesouro que Safira nos podia ter deixado. – Fechou os olhos, visivelmente emocionado. Poucos eram os que não choravam e Rafael sentiu-se ainda mais fraco. Não sabia como ia enfrentar a vida sem a sua amada. Não sabia como podia educar a sua filha se a única pessoa em que conseguia pensar era Safira.
O Iluminado continuou.
- Irmãos, para que Safira seja um exemplo para todos nós, para que sempre seja recordada como a menina doce que adorava a natureza, vamos pedir-lhe a sua protecção. – De seguida, com a ajuda do velho lenhador, abriu o caixão, deixando o corpo pálido de Safira à vista de todos. A multidão formou uma só fila e cada um foi até Safira, pedir a sua protecção. De seguida davam-lhe um beijo suave na testa, em sinal de respeito.
Para Rafael foi uma eternidade. Parecia-lhe que o número de pessoas crescia. A noite já tinha caído, quando finalmente se deu por encerrada a cerimónia. O caixão foi novamente fechado e depois quatro homens fortes colocaram-no ao lado do da mãe de Safira, dentro da capela. A capela transformou-se num verdadeiro jardim. Havia flores espalhadas por todo o lado. Rafael e os pais foram os últimos a abandonar o local. Depois seguiram caminho até ao castelo.

sábado, 10 de novembro de 2007

Por esta eu não esperava...

Epá, ganda surpresa hoje!!! Vocês (meninas, principalmente) estão a ver os tempos do básico, em que tinham um grupinho, aquele grupinho que andava sempre convosco, com quem conversavam sobre os gajos bons da escola, sobre as vossas coisas mais intímas, com quem iam ao shopping... aquele grupinho de amigas muito unido e que muito provavelmente (porque há sempre excepções) deixou de ser o vosso grupinho, mas continuam amigas e quando se juntam fartam-se de conversar e recordar os tempos de adolescência? Bem, eu também tive vários grupinhos, mas um que me marcou bastante foi o do 9º ano: eu, a Guida e a Nina. A Guida é aquela pastrôncia (carinhosamente falando) com quem estou quase todos os fins-de-semana e será sempre a minha amiga, até porque vivemos na mesma freguesia... a Nina emigrou para França (adversidades da vida) há quase dois anos, e desde então, não a via. Soube recentemente que teve um filhote (o Alexandre). E que viria a Portugal muito em breve. Fiquei ansiosa por ver o pimpolho da minha amiga, afinal é a primeira de nós a ser mãe, há sempre aquela emoção... e hoje enquanto estudava, alguém bateu à porta...




Por esta eu não esperava! Felicidades, miúda! E pó pimpolho também :)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Outono...


O sol fraco entra pela janela do meu quarto e cumprimenta-me, tirando-me de um sono profundo e cheio de fantasias. Atiro os cobertores e lençóis para trás, levanto-me com preguiça e olho com mais atenção a paisagem da janela do meu quarto... apenas a mesma imagem de todos os dias, uma rua movimentada, em que carros e pessoas se apressam, a criança chora por birra, os namorados abraçam-se, os idosos passeiam e entregam-se às recordações... Corro para o armário da roupa. Um armário cheio, mil peças, centenas de acessórios e sapatos... e mesmo assim acabo por vestir a roupa do dia anterior. Mais rápido e mais confortável. Visto os jeans apertados, uma camisola grossa, bem quente. Pois apesar do sol, os dias arrefeceram, as noites gelaram. Calço as minhas sapatilhas favoritas, prendo o cabelo à pressa, lavo a cara, corro para a casa de banho e finalmente estou pronta para um passeio... apenas um passeio. Desço as escadas, passo na cozinha, arranco um pacote de bolachas do armário e saio para a sua, onde um vento frio me bate na face.

Começo a caminhar sem rumo... porque não passear pela estrada que se vê da minha janela? E assim o faço... caminho lentamente, não há pressas, é cedo... presto atenção ao que se passa à minha volta. Nada de novo. Então fixo o meu olhar no chão, com as mãos nos bolsos. Um tapete de folhas douradas ensina-me o caminho. É tão bom ouvi-las estalar por baixo dos meus pés! Faz-me lembrar os tempos de escola, em que faziamos um monte de folhas secas e depois saltávamos para cima do monte de folhas... um tempo em que todos éramos felizes, sem preocupações... arrasto os meus pés, tornando ainda mais sonoro o ruído das folhas secas. Uma brisa acompanha-se, fazendo os meus cabelos esvoaçarem ligeiramente. Encolho-me na camisola enorme, pois começo a ficar com um pouco de frio. De repente, sinto-me sozinha, diferente de todas as pessoas que me rodeiam e que fogem apressadas dos seus problemas. Será mais alguém capaz de apreciar um pequeno passeio pela manhã? Será alguém capaz de se lembrar da sua infância, pelo simples facto de pisar um tapete de folhas secas? Será que alguém repara na beleza do Outono? Será que alguém está ainda vivo?...