domingo, 6 de abril de 2008

Sobre o livro "Lua" e 2ª Parte do 4º Capítulo "Lua"


Bem, não sei quantas pessoas visitam o meu blog com regularidade, por consequência, não sei quantas pessoas se interessam pelo meu livro.
Agradeço os comentários da Joana, que sei que acompanha com entusiasmo a evolução da história.
O que eu queria mesmo dizer, é que os excertos que vou publicando aqui não estão revistos. Portanto, não estranho se houver erros, ou gaffes temporais ou de qualquer outro género. É apenas para terem uma ideia, porque eu vou corrigindo à parte.
E aproveitanto o título do post... não sei bem como me surgiu a ideia de escrever Lua. Tinha acabado o livro "Borboleta" (que eu prometo um dia mostrar, mas que por enquanto precisa de muita "atenção") e o nome Lua surgiu-me de uma música (não faço ideia de quem canta, nem me lembro da letra) que acho que se chamava "Feiticeira Lua". Gostei tanto que resolvi criar uma história a partir daí. Este livro está a ser escrito de forma diferente dos outros dois (sim, há um outro, que se chama "Saber sonhar", mas que está na gaveta, que é onde está bem. Talvez quando me faltarem ideias eu me dedique àquilo). Em vez de ter uma história programanda, ela vai saindo à medida que escreve. Portanto, eu não faço a minima ideia de como acaba e nem imagino o que vai acontecer pelo meio. às vezes dá-me uma inspiração e lá escrevo qualquer coisa interessante. Apenas sei que o livro é de fantasia, mas ainda não sei que tipo de fantasia vou meter. Talvez algo reacionado com magia, mas nada de varinhas. Qaulquer coisa mais subtil e elegante. :P
E pronto, cá está mais um pouquito.



- Lua! - e abraçou-a, da maneira que Lua adorava. - Entra, está muito frio aí fora.
Entraram na pequena casa, aquecida pelo fogo que ardia na lareira. Lua sentou-se na cama do avô, depois de tirar o manto. A casa tinha apenas uma divisão. A cama do lado direito, bem perto da lareira, para nas noites de Inverno usufruir do calorzinho que dela provinha. Era uma cama pequenina e Lua ainda não percebia como a sua mãe podia também lá morar. Talvez houvesse outra cama na altura.
No centro havia uma mesa redonda, com três cadeiras à volta. Em cima tinha uma jarra com flores frescas.
Do lado esquerdo era a cozinha, que se resumia a um pequeno armário com algumas peças de loiça, e uma bacia, sempre cheia de água. As refeições eram preparadas à lareira e Lua dizia que os cozinhados do avô eram melhores que os do castelo.
- Têm mais sabor. - afirmava ela.
A um canto havia uma minúscula casa-de-banho, onde mal cabia uma pessoa. Lua tentava imaginar como anos antes podiam ali ter vivido três pessoas.
Era uma casa muito pobre e pequena, mas Lua adorava-a, não tinha o aspecto frio e austero do castelo. Tinha antes um ar acolhedor e simpático, e apenas ali se sentia totalmente feliz.
- Então diz-me lá... - começou o avô, enquanto preparava um copo de chocolate quente, que a neta tanto adorava. - O teu pai sabe que estás aqui?
Lua olhou-o com os olhinhos brilhantes e com um sorriso travesso.
- Não... ninguém sabe.
- Como sempre... mas tu não aprendes? Qualquer dia acontece-te alguma coisa pelo caminho e ninguém sabe onde estás! - sentou-se também na cama, ao lado de Lua.
- Não se preocupe. Eu tenho cuidado. Eu sou responsável, sabe?
O velho lenhador sorriu, orgulhoso da sua neta. Achava incrível que com aquela idade, Lua tivesse já uma inteligência bastante avançada.
- Sim, eu sei que já és uma mulher grande. Mas deves sempre avisar quando sais de casa. Deves dizer onde vais e a que horas voltas. O teu pai pode ficar preocupado desnecessariamente.
- Não fica... - ficou alguns segundos a pensar e depois abriu muitos os olhos e agarrou o braço do avô com entusiasmo. - Avô, conte-me uma história!
- Que queres que te conte? - entregava agora a chávena de chocolate quente à neta, que o bebeu deliciada, ficando até com os cantos da boca sujos.
- Não sei. Fale-me da minha mãe.
- Outra vez? Pronto, está bem! - pegou num fino ramo de árvore, pousado ao lado da cama, e remexeu as brasas que se formavam na lareira. Depois olhou a neta e sorriu, com saudade. - A tua mãe era muito parecida contigo. Também desaparecia de casa sem avisar e voltava a horas tardias. Quando aqui chegava trazia sempre nas mãos as mais lindas flores. Flores que eu próprio jamais vira. E com elas fazia colares que usava ao pescoço. - fez uma pausa, fazendo um esforço visível para não chorar. Já não se sentia à vontade para olhar Lua, então olhava o fogo que ardia. - Mais que flores, ela adorava animais. Qualquer bicho para ela era um sonho. Adorava poder pegá-los, acarinhá-los e cuidar deles quando estavam feridos. Era mesmo muito carinhosa... - Lua viu uma lágrima nascer ao canto do olho do avô, mas fingiu não a ver. Não sabia como reagir perante uma pessoa que chorava, então ignorava esse facto.
- E ela também trazia os animais para casa? - perguntou, curiosa e adorando o facto de poder saber um pouco mais sobre a sua mãe.
O avô abanou ligeiramente com a cabeça e quando ia recomeçar a falar, engasgou-se e não conseguiu impedir um violento ataque de tosse. Durante alguns minutos tossiu, ficando com as faces muito ruborizadas. Lua começou a ficar aflita, com medo por ver o avô tão fragilizado.
- Está tudo bem, avô? - só ao fim de uns segundos, o velho lenhador conseguiu recuperar e responder.
- Sim, não te preocupes, minha querida. Sabes que já não sou novo e este frio dá cabo de mim. - foi buscar um copo de água, que bebeu de uma só vez.
- O avô devia ir viver connosco no castelo. Temos lá tantos quartos vazios. - estava realmente preocupada. O avô era a pessoa de quem mais gostava. Também tinha um carinho especial pelos avós paternos, mas era o velho lenhador quem tinha sempre histórias bonitas para contar e acima de tudo falava-lhe da sua mãe. Mais ninguém podia contar história da sua mãe: os avós paternos pouco ou nada sabiam e o pai mal lhe dirigia a palavra. Por vezes, no seu íntimo, Lua achava que o pai a culpava pela morte da mãe. E era isso que a fazia odiar tanto a vida no castelo.
- Tu ainda és muito nova para compreender. - sorriu – Eu nasci e cresci nesta casinha. Aqui vivi e fui feliz com a tua avó e com a tua mãe. Eu pertenço a esta casa, quero morrer aqui.
Mas no fundo, Lua compreendia o que o avô queria dizer. Ela própria se sentia mais aconchegada na casa do avô do que no castelo. Também sentia que pertencia ali.
- Mas se o avô fosse viver para o castelo, eu poderia cuidar de si... e podíamos brincar juntos, e passear no jardim... - e um enorme sorriso resplandeceu na face da pequena, que era uma verdadeira sonhadora.
- Aceito o convite, minha Lua, e prometo que vou pensar no assunto. - sorriu e depois olhou pela janela. - Está a anoitecer, tens de ir para casa. O teu pai deve estar muito preocupado e eu também ficarei. Está tão escuro que receio que algo te aconteça pelo caminho.
Lua olhou também pelos vidros baços e, com tristeza, levantou-se para partir e colocou o manto aos ombros.
- Não se preocupe, avô, eu sei cuidar de mim e prometo chegar antes do pôr-do-sol a casa. Sabia que eu corro tão depressa como uma lebre?
O avô soltou uma gargalhada sonora e abraçou a neta, orgulhoso da maravilhosa neta que herdara.
- Posso oferecer-te um presente, meu pequeno tesouro? - e vendo que o olhar de Lua se iluminava, procurou qualquer coisa debaixo da cama. Foi com dificuldade que se baixou e depois se levantou, mas conseguiu agarrar o objecto que queria. Estendeu-o a Lua, que o pegou com curiosidade.
- O que é, avô? - estava embrulhado em cartão amarelecido. Voltou-o várias vezes e apalpou-o, sem perceber o que tinha entre mãos.
- Abre-o quando chegares a casa. Agora, põe-te a caminho, não te demores mais. - Lua guardou o embrulho na sua bolsa e deu um beijo no avô. Depois correu pelo caminho de volta a casa, sem parar momento algum, cumprindo a promessa de chegar antes do pôr-do-sol.