terça-feira, 23 de outubro de 2007

12ª (e última) Parte do 1º Capítulo "Safira"


- Costumas correr pela Floresta? Ou fizeste-o apenas para me desafiar?
Safira não respondeu. Voltou-se e continuou a caminhar, não tendo a intenção de verificar se Rafael a seguia.
- Onde vais? Queres mostrar-me alguma coisa? – olhou para trás, receoso. Não tardaria nada, todos andariam à sua procura. Mas optou por seguir aquela rapariga tão misteriosa. Não sabia o que nela o cativava, mas não lhe conseguia resistir. Caminhou atrás dela, tentando não lhe perder o rasto.
Não foi preciso muito tempo para que Safira parasse novamente. Estavam em frente a uma espécie de capela abandonada, totalmente coberta pela hera. À sua volta não havia nada. Nem árvores, nem relva, nem flores. Apenas terra. A capela não tinha janelas e no lugar onde houvera, em tempos, uma porta, restava apenas uma entrada sombria.
- Este sítio é um pouco assustador, não achas? – Rafael sentiu um arrepio gelado.
Safira voltou-se para o Príncipe.
- É o meu cantinho favorito.
Rafael ficou extasiado ao ouvir aquela voz tão doce e sorriu-lhe, esquecendo imediatamente o medo que sentira ao chegar àquele lugar.
- Pensei que me ia embora sem ouvir uma palavra da tua boca.
- Era assim tão importante para ti ouvir a minha voz?
- Talvez…
Safira sorriu e entrou na capela, decidida.
- Espera! – gritou o Príncipe, demasiado assustado para a seguir e totalmente fascinado para o fazer. Hesitou um segundo, acabando por correr ao encontro da rapariga. Ao entrar sentiu o coração parar, sem ter a certeza do que via. – Que raio de sítio é este?
A capela era pequena, quadrada e sem qualquer ornamento. Apenas um altar de pedra, ao fundo, e um caixão, bem no centro. Em cima do caixão repousavam várias flores brancas.
Safira passou ao de leve os seus delicados dedos pelas flores.
- As flores aqui nunca secam. – sussurrou, como se tivesse esquecido que Rafael a seguira.
- Está alguém dentro do caixão? – perguntou o Príncipe, com voz trémula.
Safira olhou-o e sorriu.
- A minha mãe.
Rafael engoliu em seco. Não esperava ouvir nada semelhante.
- Lamento… não fazia a mínima ideia…
- Eu tinha sete anos… – começou, com um olhar distante. – Morreu de uma doença grave, não se sabe qual a sua origem. Apenas sei que a minha mãe morreu. E quando eu morrer quero vir para aqui. Quero ficar para sempre ao lado da minha mãe. – Fixava a lua, através do cimo da capela. Esta não tinha tecto. – Sabes, se um dia tiver uma filha, quero dar-lhe o nome de lua. A lua é a minha melhor amiga.
Rafael não teve a certeza de ter ouvido bem. Como poderia alguém ter a Lua como amiga? Mas decidiu não contestar essa ideia.
- Sabes, os meus pais já devem ter posto toda a Floresta à minha procura. Talvez fosse melhor eu voltar.
Safira acordou do transe e assentiu com a cabeça. Olhou mais uma vez para o caixão onde repousava a sua mãe e seguiu atrás de Rafael. Não estavam ainda a meio caminho quando ouviram vozes. Alguém gritava por Rafael. O Príncipe voltou-se muito depressa, ficando a poucos centímetros de Safira.
- Eu volto. – e deu-lhe um beijo suave na face. Nesse preciso momento, o cocheiro exclamava:
- Encontrei-o!