quinta-feira, 28 de agosto de 2008

3ª Parte do 6º Capítulo "Uma notícia inesperada"


- Filha... - Rafael baixou o olhar, odiando ser ele o portador daquela notícia. Mas em algum momento da vida tinha de fazer o papel de pai e deixar toda a sua raiva que nutria pela filha de lado. - Como sabes, um dos nossos empregados vai todas as semanas levar fruta ao teu avô. E hoje, quando o empregado voltou, bem cedo, tinha uma notícia muito má para nos dar... - levantou-se e virou-se de costas, para que Lua não lhe visse as lágrimas.
O seu coração começou a bater com muita força, como nunca tinha batido antes. Quase podia ouvi-lo. Quis levantar-se do cadeirão, mas não foi capaz. O pai não precisava de acabar a frase, pois ela percebera tudo.
- O teu avô morreu, Lua. - continuava de costas e preparava-se para sair do quarto e deixar a filha sozinha, quando um grito atrás de si o paralisou.
- Foste tu! - voltou-se num instante e deparou-se com uma filha que não conhecia: uma expressão do mais puro ódio. Lua tinha conseguido levantar-se, com lágrimas a inundar-lhe os olhos e uma raiva tão grande a crescer-lhe no peito. Ela quase se sentia sufocar. Rafael pensou ter uma visão de um demónio vestido de anjo.
- O que disseste, Lua? - aproximou-se um pouco, só para a poder ver mais de perto e ter a certeza de que não era uma miragem e que era mesmo a sua filha quem a olhava daquela maneira.
- Foste tu que mataste o meu avô! Tu disseste que o matavas se o fosse visitar outra vez. E tu mataste. Tu mataste o meu avô! - começou dar murros nas pernas do pai, o local onde tinha mais fácil acesso, tendo em conta o seu tamanho. Rafael agarrou nos braços de Lua, de modo a fazê-la parar e baixou-se, para a poder olhar nos olhos. A expressão da menina suavizara-se um pouco, mas ainda havia muita raiva naquele olhar.
- Eu sei o que disse, mas não tencionava cumprí-lo, e não me passaria pela cabeça uma coisa dessas. Apenas queria que não voltasses a fugir. Não fui eu que matei o teu avô. Ele estava doente e morreu.
- Mentira! - gritou Lua. Rafael achava incrível como uma criança podia ter já tanta força e convicção. Ele achava que Lua nem sequer tinha noção do que era a morte. Como estava enganado! Apercebia-se agora que devido ao seu desprezo, a Princesa crescera demasiado depressa para uma menina daquela idade. - Eu sei que tu não gostas de mim porque pensas que fui eu que matei a minha mãe. E mataste o avô para te vingares. Agora eu também não gosto mais de ti! - deu esticão, libertando-se dos braços do pai e saiu a correr, sem olhar bem por onde ia.
Rafael ficou na mesma posição, apoiado no cadeirão, chorando. Só agora começava a conhecer a filha que criara e estava tão arrependido! E mais arrependido estava de ter ameaçado matar o avô, dois dias antes. Nunca tivera intenção de o fazer. Apenas se preocupara com o desaparecimento de Lua e cometera um terrível erro ao mostrar-se duro. Chorou por nunca ter dado valor à filha que também era da mulher que ainda amava. Por momentos conquistara-a, para depois a perder, quem sabe para sempre.
Saiu também a correr, na esperança de ainda encontrar Lua a virar a esquina, mas nada viu. Desceu ao piso de baixo, até à sala onde minutos antes tinham tomado o pequeno-almoço, ma apenas encontrou uma empregada a arrumar a mesa.
- Viste a minha filha? - perguntou de chofre e agarrando-a por um braço.
- Não, majestade. Ela voltou a fugir? - não obteve resposta, pois já Rafael ia longe. Subiu novamente as escadas e correu para o quarto de Lua. Bateu à porta, mas ninguém lhe respondeu. Entrou à mesma. O quarto estava vazio, já arrumado. Procurou também no quarto dos brinquedos e na casa-de-banho. Nada. Em passo sempre apressado saiu, fechou a porta e foi ao escritório dos pais. Duvidava que Lua lá estivesse, mas podia ser que os Reis soubessem do seu paradeiro. As lágrimas nos seus olhos já haviam secado e davam lugar agora a uma preocupação crescente. De todas as vezes em que Lua fugira era com o objectivo de visitar o avô. Mas agora que o avô não existia mais, para onde podia ter fugido a sua filha? O castelo era enorme, nem ele lhe conhecia todos os recantos. Sem contar com todos os pomares, jardins, campos e a Floresta. E os estábulos, a casa dos coches, a casa dos empregados... Tantos locais onde a sua filha se podia ter escondido.
Em menos de um minuto estava a bater à porta do escritório dos pais. Foi Paco quem abriu e Rafael nem lhe deu tempo de o anunciar, pois entrou de rompante.
- A Lua desapareceu! - os Reis assustaram-se com a entrada de Rafael e levantaram-se muito depressa.
- O que se passa, filho? - Rafael encostou-se à secretária, ofegante.
- A minha filha fugiu novamente e não sei onde procurá-la. - estava prestes a chorar novamente e teve de se esforçar para não o fazer.
- Fugiu? Tens a certeza? Não está no quarto? E já lhe contaste?- a Rainha passava a mão pelo cabelo do filho, tentando acalmá-lo. Não o viam assim desde a morte de Safira.
- Sim, mãe, a Lua fugiu, não está no quarto e já lhe contei que o avô morreu. Aliás foi por isso que ela fugiu. Acusa-me de ter sido eu a matá-lo.
O Rei olhou-o desconfiado.
- Por que razão ela pensaria isso?
- Não é isso que interessa agora. Ela saiu furiosa do meu quarto e temos de encontrá-la. Sabem como ela é impulsiva e tenho medo do que lhe possa acontecer.
- Então temos de mobilizar toda a gente. - declarou o Rei. - Paco, tu também nos ajudas. - o empregado acenou com a cabeça e saiu, escolhendo um corredor por onde começar a procurar. Os Reis e Rafael saíram também, procurando nos corredores mais próximos. Rafael desceu novamente ao piso inferior, até à cozinha, e gritou a toda a gente que parasse o que estava a fazer, ordenando-lhes que procurassem Lua. Todos se moveram de imediato, cada para seu lado, varrendo todos os recantos do castelo. Rossana era das pessoas mais preocupadas, pois a menina estava grande parte do dia ao seu encargo.