sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Gosto de ti...


Ilumina-me... Pedro Abrunhosa


"Gosto de ti como quem gosta do sábado,

Gosto de ti como quem abraça o fogo,

Gosto de ti como quem vence o espaço,

Como quem abre o regaço,

Como quem salta o vazio,

Um barco aporta no rio,

Um homem morre no esforço,

Sete colinas no dorso

E uma cidade p’ra mim.

Gosto de ti como quem mata o degredo,

Gosto de ti como quem finta o futuro,

Gosto de ti como quem diz não ter medo,

Como quem mente em segredo,

Como quem baila na estrada,

Vestido feito de nada,

As mãos fartas do corpo,

Um beijo louco no porto

E uma cidade p’ra ti.


Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me,

Ilumina-me.

Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me,

Ilumina-me.


Gosto de ti como uma estrela no dia,

Gosto de ti quando uma nuvem começa,

Gosto de ti quando o teu corpo pedia,

Quando nas mãos me ardia,

Como silêncio na guerra,

Beijos de luz e de terra,

E num passado imperfeito,

Um fogo farto no peito

E um mundo longe de nós.


Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me,

Ilumina-me.

Enquanto não há amanhã,

Ilumina-me,

Ilumina-me."


Amo-te...

8ª Parte do 1º Capítulo "Safira"


Estavam cada vez mais próximos. Rafael caminhava atrás. Os Reis passaram por Safira sem para ela olharem, apenas porque não viram a rapariga empoleirada no banco, nem quando ela se curvou para os receber, assim como todos faziam.
O coração da jovem parou momentaneamente. Rafael estava o mais próximo possível dela. Olharam-se com intensidade e sorriram um ao outro, como se de cúmplices se tratassem. Safira baixou o rosto, ainda a sorrir. As raparigas histéricas olhavam-na com inveja. Ela fora a única a quem Rafael sorrira.
A família Real sentou-se, assim que chegou ao fim do tapete de flores. O Rei ao centro, a Rainha do lado direito e Rafael do lado esquerdo. O cocheiro apresentou-se de pé, ao lado de Rafael. Toda a Floresta Dourada estava voltada para eles. O silêncio instalara-se uma vez mais. E então, o Rei levantou-se, acenou a toda a multidão, que aplaudiu entusiasticamente, e pediu que o barulho cessasse.
- Caros amigos da Floresta Dourada. – começou, revelando uma voz grave, mas benevolente. – É com um enorme prazer que venho, uma vez mais, receber a Primavera convosco. Sem mais demoras ou discursos, que comece o Baile da Floresta! – e às suas palavras, toda a gente se dirigiu às mesas , incluindo a família Real, de modo a satisfazer o estômago. Safira desceu do banco, enquanto os Reis e o Príncipe caminhavam novamente pelo tapete de flores, em direcção às mesas. Safira escolheu uma das mesas mais despovoadas e tirou um naco de carne. Saboreou-o com delicadeza e afastou-se, a fim de deixar que outros tivessem oportunidade de se servir. Voltou a sentar-se no seu banco, longe de toda a multidão. Podia observar, por entre espaços, o Príncipe lá longe. Este sorria, num mundo repleto de novidades. Rafael sempre ficara no castelo nos Bailes da Floresta. Não por opção. Apenas porque o Rei insistia que a sua apresentação oficial à Floresta Dourada só seria no dia do seu vigésimo aniversário, tal como mandava a tradição.