segunda-feira, 10 de setembro de 2007

10ª Parte do 1º Capítulo "Safira"


- Não vai há mais de vinte e cinco anos, estava eu no lugar onde o meu filho se encontra sentado neste momento. O meu coração batia acelerado. Era o dia do meu vigésimo aniversário e seria formalmente apresentado à Floresta Dourada. E, para além disso, teria que escolher, de entre todas as raparigas, a mais bela. A escolha foi difícil. Mas hoje sei que não podia ter escolhido melhor. Como manda a tradição, dancei com essa rapariga nessa noite e acabei por me apaixonar. Casei com ela e dela tive um filho. – sorriu à Rainha, que estava indubitavelmente emocionada. – E hoje é a vez desse meu filho. É a vez do meu filho ser apresentado à Floresta Dourada e é a vez dele escolher a mais bela das jovens. – virou-se para o Príncipe, que aparentava uma estranha calma. – Rafael, tens a minha bênção. – toda a multidão rompeu em aplausos, abrindo caminho e deixando o tapete de flores à vista. Por ali iriam desfilar todas as raparigas da Floresta. Todas, menos uma. Safira não se deixaria levar pela luxúria, desfilando em frente a toda a gente e exibindo-se para o Príncipe. Faria apenas parte da assistência.
As restantes raparigas formaram uma só fila, cada uma mais nervosa que a outra. O Príncipe parecia não prestar qualquer atenção às dezenas de raparigas. O seu pensamento voara para alguns metros dali. O mais prestigiado músico da Floresta Dourada agarrou na sua flauta de madeira e tocou uma melodia suave e simultaneamente ritmada, dando assim início ao desfile. A primeira das raparigas avançou desajeitadamente pelo tapete de flores, mas à medida que se aproximava do Príncipe, a sua confiança aumentava, conseguindo fazer uma vénia plausível, no final. Rafael olhou-a apenas por respeito, pois aquela rapariga em nada lhe interessava. E assim foi com todas as outras. O Príncipe reagiu da mesma forma a carnudas e esguias, altas e baixas, loiras e morenas, feias e formosas. Nenhuma lhe despertou o mesmo interesse que a rapariga dos cabelos dourados lhe despertara. E, azar dos azares, essa mesma rapariga fora talvez a única que não desfilara.
Safira apercebera-se dos olhares furtivos que o Príncipe lhe atirava de momentos a momentos. Pela primeira vez, não se sentia incomodada com o facto de estar a ser observada. Tentou esquivar-se aos pensamentos que a assolavam. O desfile chegara ao fim e Rafael anunciaria, a qualquer momento, quem teria a honra de dançar com ele. As raparigas voltaram a formar uma fila e o Príncipe levantou-se. Sorriu aos pais e dirigiu-se ao centro da Clareira, perto da fogueira, que ardia vorazmente. Ergueu a mão ao músico que tocara flauta anteriormente, e o som de uma valsa encheu os ares. Safira viu que agora o músico não tocava sozinho. A ele juntara-se uma dezena de homens, cada um deles tocando flauta, harpa ou violino. A música entrava suavemente pelos ouvidos de cada pessoa e continuava a entoar nas suas mentes.
O Príncipe olhou para todas as raparigas, que esperavam ansiosas pela sua escolha. Sorriu a todas elas, mas havia chegado ao fim da fila e a dança continuava pendente, apesar de a música seguir ao seu ritmo. E, surpreendentemente, Rafael voltou-se, ficando de costas para todas as concorrentes. Um subtil burburinho levantou-se.
- Foi-me anunciado... – Safira estremeceu ao ouvir voz tão firme. Era a primeira vez que o Príncipe falava, desde o início do Baile. – ... que é minha obrigação escolher a mais bela rapariga da Floresta Dourada e dançar com ela. Mas nada me obriga a escolhê-la apenas de entre as que participaram no desfile. – o barulho de fundo intensificou-se. As raparigas transmitiam incredulidade. – Na minha opinião, a mais bela rapariga da Floresta Dourada não se encontra entre as que desfilaram. – e sem se importar com alguns gritos de protesto por parte das jovens, Rafael avançou pela clareira, de olhar fixo no de Safira. Esta sentiu o seu coração dar um pulo e o que mais desejava naquele momento era poder desaparecer. Não podia crer que o Príncipe a tivesse escolhido, mas a verdade era que ele caminhava ao seu encontro. Respirou fundo várias vezes e encarou a verdade de frente. Iria dançar com o Príncipe! As pessoas abriam um estreio caminho, para logo o tornar a fechar, e Rafael alcançou Safira. Olharam-se e sorriram, com uma cumplicidade que nunca pensaram poder existir entre duas pessoas. Rafael ergueu a sua mão para Safira, que continuava de pé no banco, e tinha que o olhar de cima. Instantaneamente, toda a Floresta mergulhou no mais profundo silêncio. Apenas se ouvia, ao longe, o pio do mocho e o som gorgolejante do rio.
- A menina dá-me a honra desta dança? – perguntou, curvando-se ligeiramente.

1 comentário:

  1. Gostei!!!...mais uma vez.=) Está cada vez a ficar mais interessante.eheh.

    Beijinhos!=)

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Peço que não deixem comentários anónimos.
Obrigada,
Anabela